Para quem não sabe, um menino de 6 anos foi brutalmente assassinado durante o assalto sofrido pela sua mãe, em um bairro de subúrbio do Rio de Janeiro. Não vou entrar em detalhes aqui, mas o jornal O Globo noticiou no portal deles.
Onde estamos? Onde vamos parar? O que garante que um crime hediondo desses siga impune é a complacência do governo, do sistema penal, da sociedade... Sim, acredito que todos são culpados. Acredito que somos fruto do nosso meio, que sem educação, saúde e civilidade, aquele que cresce no meio da miséria e violência não tem como ser nada melhor. Nem todos vão ser bandidos, entretanto, pois também acredito no Bem e no livre arbítrio. Mas que já estamos tirando 99% de chance de alguem ser alguma coisa ao coloca-lo nesse meio que é esse país (mais precisamente, essa cidade) de merda, estamos.
Acredito sim em pena de morte. Acredito que com leis mais duras, essa escalada insuportável da violência seria freada. Acredito piamente que temos que fazer alguma coisa, mas sinceramente? Não mais acredito neste Brasil de hoje. Acabei de ter um filho, e qual será o país que o Arthur herdará? Ele poderá sair para jogar bola na rua, ficar na praia até tarde, ir namorar de noite na praia da Joatinga? Será que terei que me mudar para um condomínio na Barra da Tijuca, cercado de muros e seguranças armados, para que meu filho tenha alguma segurança?
Quanto tinha nove anos, me mudei para Hong Kong. Morei lá por um ano, depois fui morar em Nova Iorque, onde fiquei até os meus quinze. Morei na mesma cidade da mansão de Charles Xavier, em Westchester. Minha rua era exatamente como a de Desperate Housewives, brincavamos nos backyards, deixavamos as portas abertas, as bicicletas na grama... Um tanto idílico, é verdade, mas assim foi minha pré-adolescência. Voltei para o Brasil e fui morar colado a uma favela, no Posto 6, em Copacabana.
Que choque!
Veio o ano letivo, entrei para a escola, fiz amigos, tive namoradas, e aquele ambiente bucólico da casa em 12 Continental Rd, Scarsdale, Westchester NY foi ficando para trás. Só que sempre que acontece algo assim, como ontem, com o pequeno João, eu me lembro da minha infância, e penso na do meu filho. Minha esposa já sofreu violência, meus cunhados, minha irmã, meus amigos, eu mesmo... vamos nos acostumando, ficando anestesiados. Ai penso nas minhas crenças, no que falei acima, e vejo o quanto aqui, na Cidade Maravilhosa, não tem como ser como era antes.
Desejo boa sorte aos brasileiros, aos cariocas, a todos nos que somos reféns entre o morro e o mar. Talvez eu seja radical demais, talvez seja o certo ficar e esperar - mas o Arthur merece mais que uma cidade bonita, merece poder brincar na grama sem medo de bala perdida...